António Guerreiro
9 de Junho
de 2017, Público
Criticar os media em vão
O jornalismo cultural tem hábitos e
regras que apetece criticar. Mas porque havemos de ter sobre ele um olhar
ortopédico e que o toma por aquilo que ele não é?
Na semana passada, a morte do poeta
Armando Silva Carvalho coincidiu com uma jornada excursionista de jornalistas
da imprensa, da rádio e da televisão, promovida pela Fundação Francisco Manuel
dos Santos, à aldeia de Estevais, para apresentação de um livro sobre
Trás-os-Montes, de José Rentes de Carvalho. Sabemos que foi uma campanha bem
sucedida porque no dia seguinte houve abundantes notícias e reportagens sobre a
aldeia de Estevais e o filho ilustre da terra. Vemo-lo numa fotografia
publicada neste jornal, caminhando nas ruas da sua aldeia, seguido por uma
pequena multidão de fotógrafos, cameramen e outros profissionais.
Comparada com a generosidade jornalística a que esta excursão étnico-literária
teve direito, a morte de um dos nossos grandes poetas contemporâneos teve uma
repercussão escassa, demasiadamente escassa. Não é que a sua posteridade
dependa disso. Mas devemos ver aqui o sintoma de uma situação mais geral. Esta
comparação subentende uma queixa, mas devo dizer que só a formulei para dizer a
seguir que é uma queixa sem razão. E baseio-me nas palavras sábias de um grande
poeta e ensaísta alemão, Hans Magnus Enzensberger, que escreveu em 1988 um
artigo que se chama O grau zero dos media ou porque é que todas as queixas
contra a televisão são sem objecto. São sem objecto, escreveu Enzensberger…
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