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sábado, 10 de junho de 2017

António Guerreiro, a qualidade habitual

António Guerreiro
 9 de Junho de 2017, Público
Criticar os media em vão

O jornalismo cultural tem hábitos e regras que apetece criticar. Mas porque havemos de ter sobre ele um olhar ortopédico e que o toma por aquilo que ele não é?

Na semana passada, a morte do poeta Armando Silva Carvalho coincidiu com uma jornada excursionista de jornalistas da imprensa, da rádio e da televisão, promovida pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, à aldeia de Estevais, para apresentação de um livro sobre Trás-os-Montes, de José Rentes de Carvalho. Sabemos que foi uma campanha bem sucedida porque no dia seguinte houve abundantes notícias e reportagens sobre a aldeia de Estevais e o filho ilustre da terra. Vemo-lo numa fotografia publicada neste jornal, caminhando nas ruas da sua aldeia, seguido por uma pequena multidão de fotógrafos, cameramen e outros profissionais. Comparada com a generosidade jornalística a que esta excursão étnico-literária teve direito, a morte de um dos nossos grandes poetas contemporâneos teve uma repercussão escassa, demasiadamente escassa. Não é que a sua posteridade dependa disso. Mas devemos ver aqui o sintoma de uma situação mais geral. Esta comparação subentende uma queixa, mas devo dizer que só a formulei para dizer a seguir que é uma queixa sem razão. E baseio-me nas palavras sábias de um grande poeta e ensaísta alemão, Hans Magnus Enzensberger, que escreveu em 1988 um artigo que se chama O grau zero dos media ou porque é que todas as queixas contra a televisão são sem objecto. São sem objecto, escreveu Enzensberger…

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