"O
cartunista Osmani Simanca trabalhava no jornal “A
Tarde” há já 15 anos e foi demitido. Com mais ou menos agressividade os media apertam o garrote à liberdade de
expressão e os profissionais que prezam a dignidade pagam o preço.
Nota de esclarecimento sobre a minha demissão do
Jornal “A Tarde”
Serei sempre muito grato pela
oportunidade que tive, quando há mais de 15 anos comecei a trabalhar em “A
Tarde”, periódico com uma tradição jornalística de mais de 100 anos. Foi sem
dúvida uma honra publicar, aprender e aperfeiçoar-me com meus caros colegas e
amigos. Durante minha estadia no diário ganhei importantes prêmios nacionais e
internacionais e meus desenhos publicados originalmente em “A Tarde” foram, frequentemente,
reproduzidos por outros jornais e revistas ao redor do mundo.
Depois da penúltima mudança na direção do jornal comecei a ser questionado
sobre o conteúdo das minhas charges, sendo algumas delas censuradas. Estes
desenhos proibidos foram reproduzidos com grande sucesso em outras mídias.
Havia muito tempo que textos e matérias completas dos meus colegas eram
cortados, mas não a charge. A charge era um pequeno oásis num deserto de
tesouras.
É difícil ter liberdade sem independência econômica. A maior parte da
imprensa sempre dependeu da propaganda dos governos. Isto não seria problema
caso estes governantes não pressionassem jornais e jornalistas, e se
jornalistas e jornais democráticos não se deixassem pressionar para escrever
elogios ou críticas desmerecidas. Nosso rumo deve ser sempre definido pela
ética e pela virtude, coisas raras nestes tempos sombrios, cheios de ódio e
intolerância. Dizia Joseph Pulitzer: “Com o tempo, uma imprensa cínica,
mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma”.
Com a última mudança na direção do jornal, as pressões aumentaram ao ponto
que tive que explicar o que era uma charge, e qual era o papel da sátira
política em uma sociedade democrática e na imprensa livre. Fui indagado sobre
quem me dava as pautas ao que respondi que as pautas eram os fatos, os quais
pesquisava em profundidade, consultando várias fontes e colocando minha opinião
na forma do jornalismo gráfico, caracterizado pela charge ou caricatura
política. Fui advertido para não mexer em determinados temas e personagens, uma
tarefa impossível no meio da putrefação política e ética em que se encontra o
Brasil.
Quero agradecer às demonstrações de solidariedade de meus colegas, amigos e
leitores por referencia a minha demissão sem justa causa e cuja verdadeira
causa, de maneira resumida, expliquei neste texto.
Termino aqui, com este pensamento de Eurípedes:
“Todo o céu é da águia o caminho,
Toda a terra é do homem nobre a pátria”
Sem comentários:
Enviar um comentário