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sábado, 26 de agosto de 2017

Grécia 1967 - Filipe Diniz

Grécia 1967

Há 50 anos um dos jornais do salazarismo dava a seguinte notícia: «Os turistas que desejem visitar a Grécia devem apresentar-se barbeados e não terem cabelos compridos – decidiu o governo grego» (DN, 11.05.1967). O governo grego em causa saíra poucos dias antes do golpe fascista dos coronéis. Acerca do qual um jornal clandestino escrevia: «De novo, como nos anos trágicos do domínio de Karamanlis, milhares de democratas […] foram lançados nas prisões, submetidos a violências inauditas, ameaçados de morte» (Avante! Nº 378, Maio 1967).

Os golpes do passado ajudam a entender os do presente (os realizados ou as tentativas em curso). Na Grécia dos anos 60, como em qualquer outro lugar do mundo nos dias de hoje, a primeira coisa a averiguar será o que fazem os EUA. O que na altura pensavam (D.A. Schmitz, «The United States and Right-Wing Dictatorships, 1965-1989») era que para a Grécia existia um «consenso» que nunca deveria ser rompido: a exclusão dos comunistas; o papel da monarquia; a integração na NATO. Caso tal consenso fosse posto em causa uma das hipóteses a considerar seria a «imposição de um regime autoritário como meio para restaurar a ordem política.» Tal ameaça não vinha só dos comunistas, vinha de Giorgios Papandreou, «um cripto-comunista». Logo nos primeiros meses após o golpe, 6188 comunistas e outros democratas foram detidos ou exilados, 3500 foram presos em centros de tortura. Muitas dezenas de milhares permaneceram longos anos em campos de concentração.

Passado um mês sobre o golpe o presidente Johnson dirigiu-se ao novo governo: «A Grécia é hoje livre e próspera», «os EUA felicitam-se pelo papel assumido em salvar a Grécia da agressão e do totalitarismo.»
50 anos depois, que há de diferente? O Avante! é legal e o DN não falaria só de cabelos compridos: uma parte dos seus colunistas não deixaria de insultar o PCP por condenar essa «salvação da Grécia da agressão e do totalitarismo

Filipe Diniz


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